luto

Morre José Bicca Larré, personalidade cultural de Santa Maria

João Pedro Lamas

Foto: Lauro Alves (Arquivo Diário)

Santa Maria perdeu um de seus maiores expoentes culturais. Morreu, nesta quarta-feira, o escritor, cronista e jornalista José Bicca Larré, aos 89 anos. Larré se recuperava de uma cirurgia realizada segunda-feira no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, mas não resistiu. Ele sofria de insuficiência cardíaca e respiratória.

Larré será sepultado em Santa Maria, no Cemitério Santa Rita de Cássia, na sexta-feira, às 10h. O velório começa às 16h desta quinta-feira, na capela 1 do Hospital de Caridade.

Segundo o filho, Ludwig Larré, o pai teve quatro filhos do primeiro casamento _ Maria Cristina Larré de Mello, José de Larré Júnior (já falecido), Marcos Eugênio Dornelles Larré e Rosa Helena Dornelles Larré (falecido) - e dois do segundo - Gustavo Farias Larré e Ludwig. Ele tinha sete netos, seis bisnetos, sendo que o sétimo está a caminho. O cronista foi casado com outra personalidade santa-mariense, a professora e escritora Ruth Farias Larré, falecida em 2015, aos 76 anos.

Alegretense de nascimento, Larré viveu mais de 50 anos em Santa Maria. Aqui construiu sua trajetória profissional, seus laços de amizade e o reconhecimento de uma cidade por sua contribuição. Era jornalista, escritor, cronista e funcionário público federal, mas teve uma vida intensa na área cultural e social, produzindo trabalhos de destaque como jornalista, pensador e cronista.

_ Iniciei minha carreira com 14 anos, em 1943, no mais antigo jornal do Estado, a Gazeta de Alegrete.Transferi-me depois para o jornal A Razão, de Santa Maria. Depois para o Diário de Notícias e A Hora, de Porto Alegre e Caxias do Sul. Aí, pedi demissão dos Diários Associados e trabalhei como editor do jornal O Pioneiro, de Caxias do Sul, de onde fui demitido por me negar a me filiar ao partido integralista, proprietário do dito semanário. Criei, então, o meu próprio jornal Panorama, semanário como os demais, polemista, de muitas diatribes, como ocorria com os jornais e os jornalistas panfletários de então. Aí, tive a mais profícua experiência nessa profissão, quando ganhei mais dinheiro e pude escrever coma mais absoluta liberdade. Panorama tinha formato reduzido, mas ilustrado, e era distribuído gratuitamente, com tiragem expressiva, sem assinaturas, sustentado apenas pela publicidade. Nele, eu não tinha empregados e fazia tudo sozinho. Devo ao jornalismo, também, minha carreira de escritor, em que fui um dos fundadores da antiga Associação Santa-Mariense de Letras e da atual Academia Santa-Mariense de Letras, na qual ocupo a Cadeira nº 4. - relembrou J. Bicca Larré em entrevista concedida ao Diário para a sessão Com a Palavra, em maio de 2017.  Confira aqui a íntegra da entrevista

Foto: Fernanda Ramos (Arquivo Diário)
Com Ruth, sua esposa, na cerimônia de posse da Academia Santa-Mariense de letras (ASL) em 2013

Participou da consolidação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) junto de José Mariano da Rocha Filho. Maçom, trabalhou na fundação de lojas, construiu templos e atingiu o grau de mestre. Foi conselheiro da Cruz Vermelha do Estado. Testemunhou momentos cruciais da história do Brasil, tendo sido amigo íntimo do ex-presidente João Goulart. Foi preso durante a Ditadura Militar, em 1964, devido à natureza da atividade que desenvolvia.

- Isso aconteceu três vezes, e ele foi absolvido. Quando eu nasci, ele estava preso. Meu pai disse a que veio. Depois desses anos bem vividos, no último ano, começou a enfrentar problemas mais sérios de saúde - conta Ludwig.

Como escritor, publicou sete livros: Sereias e Lobisomens, Maçonaria: Esotérica para Maçom, Tintim por Tintim, A Estrela Dalva, Crônicas do Diário, O Cego e a Prostituta e Anedotário dos Ilustres

CRONISTA DO DIÁRIO
Larré foi cronista do Diário desde a fundação do jornal, em 2002, e só parou de escrever 14 anos depois. No Diário, ocupou o espaço nobre da contracapa da Revista MIX, em que dividia os finais de semana com o jornalista e cronista Marcelo Canellas. Na imagem acima, a reprodução de uma crônica publicada em 2013.


Há pelo menos dois anos, ele morava na Capital. 

_ Sinto enorme saudade de Santa Maria! Dos meus amigos, dos meus irmãos, dos meus colegas de jornal, da minha casa e da minha rua, do "cheiro". Enfim, de tudo o que é daí. Imaginem que eu cheguei a receber o título de Cidadão Benemérito dessa cidade que me adotou como sua e, aqui, poucos mais do que os seguranças e os porteiros do edifício me conhecem... - disse Larré na entrevista ao Com a Palavra.

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